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O capital [Livro III]

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Certamente um dos livros mais aguardados do ano é este volume da obra-prima de crítica da economia política de Marx. Intitulado O processo global da produção capitalista, o texto procura conjugar as análises do Livro I (dedicado ao processo de produção do capital) e do Livro II o (dedicado ao processo de circulação do capital).

Embora possa ser considerado em muitos sentidos o ápice da obra de Marx – é nele que está contida, por exemplo, a famosa apresentação do problema da queda tendencial da taxa de lucro, bem como toda a discussão sobre capital de comércio financeiro –, o Livro III de O capital é também um texto muito delicado, porque não chegou a ser finalizado em vida pelo autor, sendo editado posteriormente por Friedrich Engels. Por isso é tão importante o fato de a edição da Boitempo ser a primeira realizada a partir dos documentos da MEGA-2 (Marx-Engels-Gesamtausgabe), que traz a mais completa e minuciosa apuração dos manuscritos, notas e apontamentos de Marx e das opções de Friedrich Engels para a publicação.

Trechos
“Entretanto, se o leitor souber que o objeto tratado por Marx é o mesmo ao longo de todo O capital, apenas com determinações cada vez mais concretas, e entender qual é o sentido específico do Livro III, ele saberá que as classes sociais constituem uma temática que não se restringe a esse capítulo e, portanto, encontra suas determinações – talvez mais abstratas, em distintos níveis de abstração conforme o momento – ao longo de todo o desenrolar d’O capital.” – Marcelo Dias Carcanholo, no texto de apresentação.

“Ao examinar ‘o processo global da produção capitalista’, Marx preocupou-se em capturar o movimento do capital em sua totalidade concreta, isto é, o modo como os diferentes capitais relacionam-se, concorrem e, vê-se por suas indicações, colaboram entre si. As diferentes funções e as formas distintas de mais-valor apropriadas pelos capitais, tomados individualmente, permitem – aos capitais e capitalistas e aos seus governos, especialmente na vigência das crises – explicar a vida social pela oposição entre capitalistas bons e maus; éticos e imorais; disciplinados e desregrados. Assim, quando lhes interessa, interpretam a formação econômica da sociedade como anomalias de capitalistas individuais. Ora, o Livro III, ao apresentar os movimentos mais concretos da vida social sob o modo de produção capitalista, desarticula qualquer possibilidade de ‘responsabilizar o indivíduo por relações das quais ele continua a ser socialmente uma criatura’, conforme seu autor já adiantara no Livro I.” – Sara Granemann, no texto da orelha.

O livro será publicado em maio de 2017.


Marx: uma biografia em quadrinhos

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No ano do bicentenário de nascimento de um dos maiores filósofos de todos os tempos, a Boitempo lança um novo título pelo selo Barricada, Marx: uma biografia em quadrinhos, das suíças Corinne Maier e Anne Simon. A HQ aborda a vida e as principais ideias do filósofo alemão, que sonhou com um mundo livre da exploração, da desigualdade e do desemprego. Além de explicar de forma leve e bem humorada conceitos como capitalismo e luta de classes, a graphic novel passa por episódios marcantes na vida de Marx, como a redação do Manifesto Comunista e a influência do pensamento de Hegel em seu desenvolvimento intelectual.

Golpe é Guerra – Teses para enterrar 2016

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“Já se produziu muito, e se deve produzir ainda mais no futuro, sobre o golpe de 2016. No geral, essas publicações tiveram como fim ou denunciar a realização de um golpe, ou apontar as razões daqueles que o moviam. O presente livro, no entanto, não é mais um documento-defesa de Dilma Roussef (cujo governo despertou muito mais que ressalvas ao autor), nem pretende simplesmente discutir como chegamos aqui – mas tem o objetivo de compreender como o golpe foi possível para, sob a luz deste passado recente, tirar lições sobre como interromper este período histórico para o qual o povo brasileiro foi violentamente catapultado. Trata-se portanto não do “porquê” é um golpe, nem do “porquê” do golpe, mas do “porquê” não temos conseguido evitá-lo.”

Em “Golpe é Guerra – Teses para enterrar 2016”, o jornalista Pedro Marin faz um balanço estratégico do impeachment de Dilma Roussef, passando pelas movimentações que, das ruas, redações, tribunais e Congresso, derrubaram a Presidenta, discutindo também o que chama de “inação” das esquerdas frente ao golpe e as medidas a serem tomadas para derrotá-lo no futuro. O livro conta também com entrevistas exclusivas com figuras como Bresser-Pereira, Guilherme Boulos, Aldo Fornazieri e Angelica Lovatto.

“Este livro é uma provocação contra o debate legalista que consome o PT e os epígonos do golpe de 2016. Escrito nos tons da polêmica política de um publicista, ele nos oferece ares mais ativos diante de uma esquerda um tanto afastada de pensamentos militares ou muito dedicada às complexas abstrações teóricas”, diz André Ortega sobre o livro.

GUIA RÚSSIA PARA TURISMO DO COLAPSO

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Descrição

Neste guia — que não é guia, é uma deriva, resultado de uma imersão em Moscou durante o Centenário da Revolução Russa —, a geógrafa Rachel Pach escreve sobre o futuro a que chegou o futurismo soviético às vésperas da Copa do Mundo de 2018. O construtivismo tornado acessório de empreendimentos imobiliários, e a implosão-explosão monumental de uma cidade convertida em megamercadoria imagética após o colapso da utopia socialista do urbanismo e da planificação.

SOBRE A AUTORA

Rachel Pach investiga avidamente a teoria e a prática das derivas psicogeográficas. É anarco-comunista, situacionista e benjaminiana. Nasceu na Paulicéia Desvairada nos anos 1990 e em 2018 seguia sendo proletária intelectual do Estado (fazendo mestrado em Geografia Humana na Universidade de São Paulo). Produz o projeto de crítica espacial 2&3DORM.

Manuel Ugarte: O sonho da Pátria Grande

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“Se a América do Norte, após a decisão de 1775, tivesse sancionado a dispersão dos seus fragmentos para formar repúblicas independentes; se a Geórgia, Maryland, Rhode Island, Nova Iorque, Nova Jersey, Connecticut, Nova Hampshire, Maine, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Pensilvânia tivessem se estabelecido como nações autônomas, veríamos o progresso inverossímil que caracteriza os ianques? O que tem facilitado o progresso é a união das treze jurisdições coloniais que estavam longe de apresentar a homogeneidade que observamos entre as que se separaram da Espanha. Este é o ponto de partida da superioridade anglo-saxônica no Novo Mundo.” Manuel Ugarte

Manuel Ugarte (1875-1951) foi um intelectual socialista e anti-imperialista, defensor e propagandista da unidade latino-americana. Ele relacionou as ideias do internacionalismo socialista com as do nacionalismo, reivindicando uma retomada do programa bolivariano de integração e emancipação. Sua pregação a favor de um pensamento nacional independente provocou a sua marginalização pelas europeizadas e americanizadas oligarquias exportadoras, universidades conservadoras, “academias marxistas” e “centros sociais”, estes dois últimos subvencionados por generosas bolsas do Império, como nos relatou Jorge Abelardo Ramos, criador da corrente política e ideológicaIzquierda Nacional, um dos muitos intelectuais influenciados por este grande latino-americanista dos anos 1900, assim como o foi Haya de La Torre, fundador e líder da Alianza Popular Revolucionaria Americana. Para ter-se uma ideia do isolamento sofrido por Ugarte, em vida jamais teve um só livro publicado em sua terra natal, a Argentina.
Como representante do Partido Socialista argentino, e único delegado da América Latina, no Congresso Socialista Internacional de Stuttgart (1907), durante a discussão sobre a questão colonial e diante de um Lênin surpreso com o descarado colonialismo dos partidos europeus, junto com o consagrado revolucionário russo deu seu voto contra a tese “socialista” que apoiava o colonialismo dos países “civilizados” como forma de educar os países “atrasados”.

Victor Ramos é presidente do Instituto Nacional de Revisionismo Histórico Argentino y Iberoamericano Manuel Dorrego e do Instituto del Pensamiento Nacional. Fundador do Instituto Nacional contra la Discriminación, la Xenofobia y el Racismo (INADI) e presidente do SOS Internacional. Diretor da Casa Nacional del Bicentenario de la Villa 21. Membro do Conselho Editorial da Coleção Pensadores da Pátria Grande em português. Jornalista, documentarista, diretor e roteirista de cinema. Autor dos livros Racismo y discriminación en la Argentina), Democratismo pequeño burguês o democracia direta e La otra Historia – El revisionismo nacional, popular y federalista (2012). É filho de Jorge Abelardo Ramos e Faby Carvallo.

A Coleção Pensadores da Pátria Grande é absolutamente original em língua portuguesa. Sua proposta é apresentar personalidades que lutaram ou lutam pela unidade continental latino-americana.

Como esmagar o fascismo

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“É certo que a social-democracia preparou, com a sua política, o florescimento do fascismo, mas é certo também que o fascismo supõe uma ameaça mortal primeiramente para a própria social-democracia”
 Leon Trotsky

“Falam muito bem de nós, bolcheviques. Muitas vezes tem-se vontade de dizer: que nos elogiassem um pouco menos, e penetrassem um pouco mais na tática dos bolcheviques, estudassem-na melhor!”
 Vladimir Lenin

É possível que nenhuma outra compilação de textos de Leon Trotsky esteja tão atual e pertinente à conjuntura brasileira quanto o que é apresentado em Como esmagar o fascismo. O Brasil vive um momento delicado que provoca e desafia aqueles que lutaram contra a ditadura militar e que vivem sob uma democracia, imperfeita como a democracia liberal sempre é, há meros 30 anos.

Poucos imaginavam que voltaríamos a exclamar “fascistas!” em tão pouco tempo e com tanta intensidade. Todavia, o próprio conceito de fascismo entra em disputa na era da pós-verdade e diante da despolitização da ultra-política brasileira em que, tanto a baixa quanto a alta intelectualidade da nova direita, abusam de distorções e fake news. Quando é necessário explicar que o nazismo não era de esquerda e que, por mais que a imagem aqueça corações de militantes de esquerda todas as noites, não há ameaça comunista iminente no Brasil, também é necessário explicar o que é o fascismo. Mais que isso, é necessário desenvolver as táticas apropriadas para derrotá-lo de vez, não apenas permiti-lo hibernar.

Os textos compilados neste livro apresentam várias lições e balanços que são úteis para compreender o passado, mobilizar o presente e modificar o futuro. Trotsky trata desde a definição de fascismo até a compreensão de que não há luta antifascista sem um esforço nítido de aproximação da pequena burguesia do proletariado. Este, por si só, é um enorme desafio quando o fascismo se edifica na construção de um inimigo interno, por via da moralidade conservadora, como é o caso hoje. Com uma crise econômica e política que desloca a classe média para cada vez mais longe dos anseios da classe trabalhadora e que captura trabalhadores para um projeto contraditório ao seu interesse de classe, o que fazer? Ao examinar a Alemanha sob o olhar de Trotsky vemos que a situação brasileira diante do flerte fascista não é uma jabuticaba, mas parte das táticas de dominação implementadas há décadas no intuito de desarmar e desanimar qualquer articulação de esquerda, seja reformista ou revolucionária, ou somente progressista.

O contexto do crescimento do fascismo europeu não era tão diferente do nosso momento atual. Havia a relação da desconfiança da classe trabalhadora com o KPD que mobilizou milhões de operários a favor da social-democracia alemã. Essa fragilização, sob profunda crise econômica, enfraqueceu o governo Mueller e sua governabilidade. Ao mesmo tempo em que alguns se rebelaram em torno de um projeto comunista, o nazismo cresceu como a maior força política da época. O resto da história conhecemos bem, mas a perspectiva de Trotsky ainda se faz útil por apontar as falhas de organização e politização que permitiram tamanho levante fascista.

As traduções aqui apresentadas, algumas delas inéditas em língua portuguesa, nos oferecem um material valioso para analisar a nossa própria conjuntura e traçar um plano estratégico contra o fascismo e de retomada da luta da classe trabalhadora. Luta que, por ser da maioria da sociedade, contempla uma variedade de sujeitos políticos que precisam se unir e se articular. É dever evitar essa repetição da história recente do Brasil e do mundo como farsa e é dever ter ousadia. Nas palavras de Trotsky, para esmagar o fascismo é necessário que a oposição compreenda que mesmo sob condições desfavoráveis, “toda corrente cresce com o aumento de suas tarefas. Compreendê-las claramente é preencher uma das mais importantes condições de vitória”.

— Sabrina Fernandes, marxista, doutora em Sociologia e professora da UnB
Sobre o autor

Leon Trotsky

Leon Trotski, cujo verdadeiro nome é Lev Davidovich Bronstein, nasceu 7 de novembro de 1879 e foi assassinado em Coyoacán, no México, 21 de agosto de 1940. Foi um dos maiores intelectuais marxistas, principal cabeça do grupo revolucionário bolchevique e organizador do Exército Vermelho. Após a morte de Lenin, rivalizou com Stalin a disputa pela hegemonia do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

Pós-extrativismo e decrescimento

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Acosta nasceu em um pequeno país da América do Sul rico em recursos naturais e dono de uma das maiores biodiversidades do planeta. Brand vem da nação mais poderosa da Europa, reconhecida pelas indústrias de alta tecnologia. As distâncias não impediram, porém, que se juntassem para pensar alternativas complementares para o velho e o novo mundo. “O pós-extrativismo e o decrescimento são duas faces da mesma moeda”, escrevem.

Como se verá neste livro, o pós-extrativismo surge da resistência centenária dos povos latino-americanos, sobretudo das populações indígenas. Sem ceder a romantismos, os autores veem nos modos de vida tradicionais andinos e amazônicos exemplos de como deter o progresso e o desenvolvimento — que, como sabemos, destroem o meio ambiente, concentram renda e promovem desigualdade.

O decrescimento se origina na Europa, contrariando a ideia de que o crescimento econômico infinito é um caminho viável para melhorar a vida das pessoas. Típico do regime capitalista, este raciocínio desconsidera os impactos sociais e ecológicos do crescimento; seus defensores parecem esquecer que a evolução tecnológica dos países desenvolvidos depende da exploração de matérias-primas no mundo subdesenvolvido.

Pós-extrativismo e decrescimento contrariam radicalmente tais princípios. Até porque já não há dúvidas de que estamos depredando a Natureza em uma escala muito maior do que sua capacidade de regeneração. Além disso, a úlima crise do capitalismo não parece arrefecer: pelo contrário, continua avançando sobre direitos sociais e ecossistemas.

Na Europa — e, agora, também na América Latina — as políticas de austeridade estão fazendo com que a pobreza e a desigualdade voltem a aumentar: o Estado de bem-estar social sucumbe diante do mercado financeiro, enquanto novas fronteiras petrolíferas, mineiras e agropecuárias engolem a vegetação nativa, atropelando os Direitos Humanos e os Direitos da Natureza.

Acosta e Brand são categóricos: não existe justiça social sem justiça ambiental, e vice-versa. No momento em que a chamada “onda progressista” abandona a América Latina, e que a extrema-direita cresce em todas as partes, os autores apontam a necessidade urgente de alternativas que superem — e aperfeiçoem — a modernidade. Se nem as experiências socialistas nem as progressistas conseguiram romper com as ideias de progresso, desenvolvimento e crescimento, é preciso apurar a reflexão.

O pós-extrativismo e o decrescimento atacam o cerne do capitalismo. Para Acosta e Brand, o freio à exploração maciça dos recursos naturais na periferia do sistema deve aliar-se a uma reversão — não apenas a uma interrupção — do crescimento nos países centrais do capitalismo. “Estas discussões se nutrem da imperiosa necessidade de promover uma vida harmoniosa entre os seres humanos e entre os seres humanos e a Natureza. Este é, definitivamente, um grande desafio para a Humanidade — e implica ter em mente uma mudança de eras.”

Eis uma tarefa extremamente complexa e repleta de percalços, que os autores — renomados intelectuais críticos — não deixam de apontar. A começar pelo próprio nome: haveria maneira mais eficaz de expor as visões de mundo propostas pelo pós-extrativismo e pelo decrescimento? Seria melhor falar em Bem Viver, mas a saída do labirinto capitalista não é apenas uma questão terminológica. Por isso, o debate não se encerra em nomenclaturas.

Em tempos de desesperança, este livro surge como um convite a caminhar radicalizando a democracia. “Porque precisamos de sempre mais democracia, nunca menos.”

SOBRE OS AUTORES

Alberto Acosta é político e economista. Nasceu em Quito, capital do Equador, em 1948. Participou da fundação do Instituto de Estudios Ecologistas del Tercer Mundo e do partido Alianza País, que levou Rafael Correa ao poder em 2007. Foi ministro de Energia e Minas e presidente da Assembleia Constituinte do Equador. Em 2013, lançou-se como candidato à Presidência da República pela Unidad Plurinacional de las Izquierdas, obtendo escasso apoio popular. Publicou os livros O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos (Elefante & Autonomia Literária, 2016) e Breve história econômica do Equador (Funag, 2006).

Ulrich Brand é cientista político. Nasceu em Mainau, na Alemanha, em 1967., e atualmente trabalha como professor da Universidade de Viena, na Áustria, tendo passagens por instituições europeias e latino-americanas. É autor de estudos sobre globalização, hegemonia e ecologia política, e um dos criadores do conceito de “modo de vida imperial”. É membro da Fundação Rosa Luxemburgo. Publicou recentemente os livros Lateinamerikas Linke. Ende des progressiven Zyklus? [Esquerda latino-americana: fim do ciclo progressista?] (VSA, 2016) e Post-Neoliberalismus?: Aktuelle Konflikte und gegenhegemoniale Strategien [Pós-neoliberalismo? Conflitos atuais e estratégias contra-hegemônicas] (VSA, 2011).

Uma história da onda progressista sul-americana

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Fabio Luis Barbosa dos Santos mergulha na história política da América do Sul para compreender as razões da ascensão e queda dos chamados “governos progressistas”. Na esteira das mobilizações contra as reformas neoliberais dos anos 1990, nove países da região elegeram presidentes identificados com as reivindicações populares. Contudo, menos de vinte anos depois da vitória do primeiro deles, Hugo Chávez, e após golpes de Estado mais ou menos explícitos, essa onda chegaria ao fim, abrindo espaço para o recrudescimento do conservadorismo. O que aconteceu? Talvez o diálogo crítico entre passado e presente proposto neste livro possa oferecer caminhos para o futuro de uma esquerda sul-americana aturdida com a força de macris, uribes, fujimoris, piñeras e bolsonaros depois de um ciclo de crescimento e inclusão social.

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Na América Latina, de tempos em tempos, somos invadidos pelo sentimento desesperador do eterno retorno do mesmo. A cada tentativa de integração civilizadora, nossas sociedades são tragadas pela voragem do atraso que as mantêm presas à desigualdade, à falta de liberdade e à injustiça. Por quê?

No intuito de responder a inquietações que retornaram com força depois do desmanche da “onda progressista”, Fabio Luis Barbosa dos Santos procura, a partir de rica pesquisa de campo e de entrevistas, além de amplo domínio da literatura especializada, sintetizar o que ocorreu nas últimas duas décadas.

Ao analisar as contradições e os dilemas dos governos progressistas, o autor mostra que, apesar das particularidades de cada país, há características comuns: os presidentes não romperam com o legado macroeconômico das ditaduras; com pequenos piparotes na desigualdade, fortaleceram o capitalismo, deixando de cumprir promessas de integração social substantiva; levados ao poder pela insatisfação do campo popular com as políticas de ajuste neoliberais, canalizaram a revolta para demandas institucionais de pequeno resultado; e, por fim, se aproveitaram da acumulação por espoliação, surfando no consenso das commodities sem atentar para a predação socioambiental daí decorrente.

Em suma, enfraqueceram o campo popular e incrementaram a inserção subordinada e passiva de seus países no mercado mundial, em nome de uma política de esquerda. É fácil entender que a volta da direita ao poder não é um raio em céu azul.

Fabio Luis conclui que a derrocada da onda progressista atesta mais uma vez que, dado o caráter antinacional, antipopular, antidemocrático e predatório das classes dominantes no continente, a única alternativa civilizatória para a América Latina é o socialismo. Não por acaso, o último país analisado neste livro é Cuba. Seus dilemas são os dilemas do socialismo hoje.

Ao mapear o debate público aberto em 2016 sobre os rumos da revolução, o autor mostra sem preconceitos nem idealizações os problemas enfrentados pela ilha, isolada no oceano do capitalismo global, assim como os limites da Revolução Cubana.

Das reflexões de Fabio resta uma advertência: a alternativa civilizatória para Nossa América, que vá além do canto de sereia do consumo, está num projeto socialista humanista fundado em valores como igualdade, liberdade e participação popular, combinando direitos universais com relações mercantis disciplinadas por um Estado soberano.

Mas é sabido que mesmo uma proposta reformista tão modesta continua tabu absoluto para os donos do poder. Só resta concluir com Fabio Luis que, diante da contrarrevolução permanente, reforma é revolução.

— Isabel Loureiro

Fabio Luis Barbosa dos Santos é doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP), professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autor dos livros Além do PT: a crise da esquerda brasileira em perspectiva latino-americana (Elefante, 2016) e Origens do pensamento e da política radical na América Latina (Unicamp, 2016). É também um dos organizadores de Cuba no século XXI: dilemas da revolução (Elefante, 2017).


Negri no Trópico 23º 26′ 14″

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Negri no Trópico 23º 26′ 14” é uma obra absolutamente multitudinária: uma animada multidão de editoras e autores reunidos para fazer jus, e celebrar, Toni Negri, o filósofo e militante revolucionário italiano que não apenas dá nome à obra como, ainda, assina artigos fundamentais. No livro, Negri expõe itens centrais de seu pensamento em entrevistas dadas a intelectuais, artistas e ativistas — os quais também assinam outros artigos virtuosismos sobre o legado autonomista no contexto de sua visita-evento ao Brasil nos fins de 2016.

Não era para menos. De 25 a 27 de outubro de 2016 se realizou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (e na Bibiloteca Mario de Andrade) o colóquio Diálogos com Antonio Negri, evento organizado em conjunto pelos Departamentos de Ciência Política, Filosofia e Sociologia e que marcou a primeira visita de Negri à instituição. Nessa temporada, Negri travou uma série de debates com Marilena Chaui, Michael Löwy, Suely Rolnik, Alberto Acosta, Peter Pál Pelbart, Tatiana Roque, Homero Santiago, Vera Telles, José Guilherme Pereira Leite, entre outros expoentes do pensamento.

Esta obra consiste em um documento filosófico histórico indispensável, no qual pontos chave das reflexões negrianas —  como os conceitos de Império, Multidão e Comum, Trabalho Imaterial e Capitalismo Cognitivo — são abordadas num alegre encontro com os movimentos em São Paulo, desde velhos integrantes da resistência à ditadura até os jovens militantes secundaristas, passando por ambientalistas.

Em momento de luto e luta no Brasil, o encontro do velho marxista autonomista com esses movimentos gera um feliz resultado. Um alegre trópico.

 

Sobre o autor

Antonio Negri

Filósofo político marxista italiano. Foi preso sob a acusação de ser uma liderança do grupo conhecido Brigadas Vermelhas. Ganhou notoriedade internacional nos primeiros anos do século XXI, após o lançamento do livro Império – que se tornou um manifesto do movimento anti-globalização – e de sua sequência, Multidão, ambos escritos em co-autoria com seu ex-aluno Michael Hardt. Entre os temas centrais da obra de Negri estão marxismo, globalização democrática, anti-capitalismo, pós-modernismo, neoliberalismo, democracia, o comum e a multidão. Sua produção intelectual prolífica, iconoclasta e cosmopolita constitui uma análise altamente original do capitalismo tardio.

Nós que amávamos tanto o capital – leituras de Marx no Brasil

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Nós que amavámos tanto O capital é resultado do Seminário Internacional Marx: a criação destruidora, realizado pela Boitempo em parceria com o Sesc São Paulo em 2013, que recuperou os eventos ocorridos entre 1956 e 1964, quando um grupo de jovens professores da Universidade de São Paulo (USP) dá início ao estudo da obra de Marx. Esses estudos, ficaram conhecidos como Seminários Marx.

Nessa coletânea, quatro participantes dos Seminários Marx expõem muito mais que seus depoimentos sobre aquela experiência: trazem para o debate atual o significado que tais estudos tiveram para a compreensão científica de realidades brasileiras que desenvolveram em seus trabalhos futuros.Roberto Schwarz, crítico literário e professor de teoria literária, traz em seu depoimento a configuração e a importância dos seminários para a consolidação do marxismo na academia brasileira, bem como as rupturas que ele implicou. O filósofo José Arthur Giannotti já era professor da Faculdade de Filosofia da USP e foi um dos impulsionadores da formação do seminário. Além de enaltecer os capítulos históricos memoráveis da obra marxiana, Giannotti apresenta uma parte considerável das mais diversas “leituras” que se pode fazer de O capital, fundamentalmente do primeiro capítulo, ao qual ele se refere para ressaltar a influência hegeliana na construção do conceito de valor como substância.

João Quartim de Moraes, comunista, filósofo e professor da Unicamp, destaca a polêmica em torno de duas interpretações do Brasil, a partir da leitura de Marx, que se formou com as obras de Caio Prado Jr. e Nelson Werneck Sodré. E vai além: ressalta a diferença entre a apropriação de uma obra como O capital por acadêmicos e por militantes. Por sua vez, Emir Sader, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no programa de Políticas Públicas, resgata a importância de Marx para a compreensão do momento conjuntural, do avanço do neoliberalismo como forma particular da acumulação do capital com dominância da esfera financeira.

“Hoje, com a crise e as perspectivas de avanço do capital sobre a classe trabalhadora, a luta é mais do que necessária, é vital, e a leitura dos clássicos pensadores que se dedicaram a refletir sobre a luta de classes, e principalmente de Marx, não pode ser substituída por rápidas informações das mídias sociais. O grande ganho que esse tipo de estudo dedicado propicia é a possibilidade de uma visão crítica da história. Por isso o exemplo desses intelectuais deve ser seguido com seriedade por aqueles que se engajam na luta emancipatória da humanidade.”
[Trechos da apresentação de Sofia Manzano]





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